Fest Aruanda 2011

O Fest Aruanda é um festival audiovisual que ocorre aqui em João Pessoa e que já está em sua 7ª edição. Como eu gosto muito de curtas, acabei dando uma fugida da universidade para participar de pelo menos 1 dos 5 dias do festival.

Recentemente eu comecei a lembrar que eu vou em muitos shows, mas acabo os esquecendo depois. Primeiro pensei em fazer uma lista, daqui para frente, com os shows que eu for, mas cheguei à conclusão que seria melhor ainda se eu escrevesse algo mais detalhado. Como eu gosto bastante de escrever e reconheço os seus benefícios (melhor organização de ideias, etc), a ideia de documentar minhas idas à eventos culturais me soou ainda melhor. Aproveitei que eu estava indo sozinho ao Fest Aruanda para comprar um pacote biscoito, uma garrafa d’água, pegar uma caneta e um bloquinho e me transformar em Fernando, O Crítico.

Primeiro eu gostaria de deixar claro que eu sou apenas um telespectador. Na verdade eu posso até ser considerado um mal telespectador: vou pouco ao cinema, não lembro o nome dos diretores dos filmes que eu gosto, e por aí vai. Também não conheço em detalhes o processo de criação por trás do cinema. Meus relatos aqui presente representam a opinião de um total leigo no assunto. Leigo, mas apreciador.

O correto seria eu listar o nome da obra e, no mínimo, o(s) diretor(es), mas não vou fazer isso, por motivos de preguiça de procurar um por um (não deu para anotar na hora). A seguir, os curtas que eu assisti: uma breve sinopse (contem spoilers!) e meu comentário.

(espero que os diretores destes curtas nunca cheguem a ler esta página, :D )

Metafísica

Sinopse: Aparece um homem trabalhando. Apenas seus braços, jogando cimento em uma parede, estão a mostra. Paralelamente, uma dona de casa prepara o almoço. A câmera fica alternando entre os dois, continuamente. Aparece algumas fotos da família da mulher, e ela continua cozinhando. Após várias vezes mostrando o homem trabalhando e a mulher cozinhando, ela finalmente prepara o prato e sai de casa.

Agora assistimos o homem fazendo a mesma coisa de sempre, e a mulher andando a pé, a cidade toda, carregando o prato (enrolado em um lenço, bem arrumado). Ao final da jornada, a mulher entra em um cemitério, se dirige a uma cova, deixa o prato que ela preparou lá e volta com um prato (cheio de comida) que ela deixou lá no dia anterior. FIM!

Comentário: Pois é. O homem não tem nenhuma ligação com a mulher. Eu já havia assistido Metafísica no Cineport deste mesmo ano, e não tinha entendido nada. Desta vez, como eu já conhecia o desfecho, passei toda a obra pensando em qual mensagem estava tentando ser passada. Não sei se cheguei onde eu deveria chegar, mas refleti bastante em como a nossa cultura lida com a morte (e os mortos).

No final, a moral da história para mim foi: o homem passou o dia todo trabalhando no sol quente e talvez não tivesse ninguém (tipo uma esposa) para preparar nada para ele. Enquanto isso, a mulher passou a manhã toda preparando um prato delicioso, que não virá a ser comido por ninguém. O quão injusto isso é?

Tá na Cabeça

Sinopse: Animação. Basicamente uma música com um clipe (desenhos e animações) no fundo. A música tem como temas a manipulação de massas, mídia, consumismo e outras coisitas mais, e é meio que um rap.

Comentário: Excelente! Me deixou de boca aberta. Tanto a música como as imagens me agradaram muito. Depois do curta anterior, que não tinha diálogos e era bem calmo, Tá na Cabeça chegou como um ta(pa) na cara. Possivelmente um dos melhores curtas (para mim) da noite. Queria muito poder revê-lo agora.

Ensolarado

Sinopse: Situado no sertão, o filme mostra uma garota que se não se encaixa muito bem no ambiente. Não gosta de ajudar a família nos afazeres diários, como, por exemplo, lavar a roupa no rio com a mãe, e está sempre um pouco chateada. Desde o começo percebemos que alguém está chegando para levá-la para a cidade, e no final essa pessoa chega e a leva embora.

Comentário: Um daqueles curtas que faz você se sentir mais burro por não o entender. No final, quando a menina entra no carro para ir embora, ela pega um óculos escuro que estava no carro (percebemos que é a primeira vez que ela vê tal objeto), coloca no rosto e dá o maior sorriso. Durante o curta podemos notar que sempre que ela estava sozinha em casa ela ficava com as luzes apagadas, e em um dado momento que ela sai correndo na mata para se esconder, ela fica “tapando” o Sol com as mãos.

Tá, juntando tudo isso com o título, fica claro que o problema da menina lá era o Sol. Mas foi só até ai que a minha criatividade chegou :? .

Rái Sossaith

Sinopse: Animação. Eu diria 16+ ou 18+. Durante o velório de um colunista social (que acontece em um Shopping Center), é tocado (à pedido do colunista, antes de sua morte) um DVD com reportagens inéditas de seu programa. Segue abaixo o teaser oficial.

Comentário: Muuuuuito bom também! O filme é engraçadíssimo e super bem feito. Faz uma crítica bem legal a chamada high society. Mais um que, assim como o Tá na Cabeça, se estivesse no Youtube, eu com certeza assistiria novamente e compartilharia nas redes sociais.

Me fez pensar em como é difícil o trabalho dos juris (inclusive tinham alguns presentes lá na hora) devido a diversidade de gêneros que eles tem que avaliar. Eu mesmo tenho preferências claras quanto à alguns gêneros, e é quase impossível julgar a qualidade técnica dos filmes de forma imparcial.

O Brasil de Pero Vaz Caminha

Sinpose: Leitura de vários trechos da Carta de Achamento do Brasil (Pero Vaz Caminha) com recortes de vídeos gravados nos dias de hoje ao fundo, acompanhando a narração.

Comentário: Originalidade 1.000. A voz que executa a leitura é muito agradável e as imagens foram bem escolhidas. Todos os trechos de vídeo usados mostram situações do cotidiano, e uma pitada de humor é adicionada na hora da adaptação do antigo para o moderno. Recomendo! E ainda conta com uma dancinha non-sense no final!

Mantegna

Sinopse: Ao som de Bach, o curta começa com a câmera apontando para imagens em um quarto e segue se movendo apenas horizontalmente, mostrando cada vez mais retratos (incluindo retratos que se moviam, como em porta-retratos digitais) e pinturas. Aparentemente todos eles envolvem pessoas mortas (ou pelo menos deitadas) com ênfase nos pés, sempre descalços. No final, pela primeira vez a câmera vai dando um zoom out e o que antes parecia ser um quarto (com as imagens mostradas) na verdade é um quadro (que pareceu também ser um espelho). FIM!

Comentário: Pois é. Mais um curta que eu não entendi nada. Só agora, procurando na Internet, encontrei isto:

Um filme poético sobre a obra-prima Lementação sobre o Cristo morto, pintada por Andréa Mantegna em 1490. O filme faz comparação com outras obras de arte, desde o Renascimento até as mídias contemporâneas, que utilizaram o Cristo Morto como tema, assimcomo, com aquelas obras que, de forma direta, utilizaram o Cristo Morto de Mantegna como referência. (Fonte: Porta Curtas)

Bom saber que faz algum sentido :), mas mesmo assim não gostei muito.

Inquérito Policial nº 0521/09

Sinopse: São mostrados dois vídeos de inquéritos policiais (fictícios). Em ambos coisas estranhas acontecem. Coisas beeeeem estranhas.

Comentário: Eu não sou muito fã do gênero terror, mas este até que me agradou um pouco. Infelizmente por se tratar de dois vídeos sem muita ligação entre si, falta um plot para prender o telespectador e deixar de ser apenas várias cenas de susto juntas.

A Fábula da Corrupção

Sinopse: Animação. Como o nome já diz, uma fábula sobre a corrupção, envolvendo o dono de um mercadinho, seus animais de estimação e ratos. Segue o curta na íntegra:

Comentário: Bem feito, mas achei um pouco superficial, infantil. Tentei traçar paralelos malucos com o mundo real, mas não obtive sucesso. Um ponto positivo é que a narração é feita em forma de poesia, com rimas.

Ovos de Dinossauro na Sala de Estar

Não vou comentar este, pois tive que sair da sala para atender o celular e acabei passando uma boa parte do curta ausente.

Fubo é Bom

Sinopse: Não vale, pois você provavelmente iria gastar mais tempo lendo a sinopse do que assistindo ao curta. E por definição, sinopses são resumos, e resumos são, por definição, menor que a obra :D . Segue o curta na íntegra:

Comentário: ???

As Folhas

Sinopse: Um garoto que mora no interior aparece indo frequentemente para debaixo de uma árvore e recolhendo folhas caídas. Em seguida vemos que ele gosta bastante destas folhas, inclusive ao ponto de ter um saco cheio de folhas caídas em seu quarto. Descobrimos que é seu aniversário e que seu pai está viajando e não vai chegar a tempo.

Um pedaço de papel (desta vez papel) aparece em seu quarto, contendo um recado de sua mãe dizendo que ela não se esqueceu do aniversário dele. O filme encerra com um outro recado da mãe (fica claro que ela faleceu) debaixo da árvore que o menino vinha frequentando.

Comentário: Além da bela fotografia em algumas cenas e da sensação de descoberta ao perceber o trocadilho feito no título com as folhas das árvores e as folhas de papel que a mãe falecida usava para se comunicar com o filho e o marido, o filme não me surpreendeu.

Julie, Agosto, Setembro

Sinopse: História fictícia de uma suíça chamada Julie que está fazendo intercâmbio em Goiânia. O curta mostra os namorados que ela teve e o que aconteceu com cada relacionamento. Segue o teaser:

Comentário: Gostei bastante. Pontos positivos (e extremamente pessoais) para o fato da narração ser em francês e para a atriz principal, que deixou o filme um pouco mais cute.

Não sei se foi distração minha, mas creio que o título não é mostrado no começo do curta, e sim ao final. Muito inteligente, pois após o namoro que deu mais certo ter acabado, ela comenta como Goânia é quente e seca em alguns meses, e como ela também ficou assim. Nos créditos (onde aparece o nome do filme) compreendemos o trocadilho feito utilizando o nome dela.

O Ogro

Sinopse: Animação. Em uma noite chuvosa, um cavaleiro atravessa uma floresta em direção a um castelo quando é surpreendido por uma pessoa misteriosa, que conta sua história. Segue o teaser:

Comentário: A qualidade do desenho me agradou muito (muito mesmo), assim como as vozes. Infelizmente achei a história bastante incompleta.

Só para estragar, vou contar o final: o cavaleiro está indo ao castelo matar um ogro, e a pessoa misteriosa conta como foi o encontro dela com este ogro. No final da história, o cavaleiro pergunta algo como: “se o ogro era tão forte, como você sobreviveu?”. A resposta é: “EU NÃO SOBREVIVI! MWAHAHAHHA”, e o cavaleiro sai correndo. FIM!

One Sky

Sinopse: Uma mulher cantando e dançando em cômodos aleatórios com umas projeções malucas na parede.

Comentário: ?!?! Entendi nada :(

Apoteose

Sinopse: Um rapaz entediado assiste à TV e um concurso de melhor gaitero do mundo chama sua atenção. Podemos ver a trajetória do jovem aprendendo o instrumento e ganhando diversas competições locais, até finalmente chegar no concurso anunciado na televisão.

O juri o elege como o melhor gaiteiro do mundo, mas ao chegar em casa, percebemos a sua insatisfação e raiva. Vemos então o prêmio sendo colocado em um depósito com outras dezenas de prêmios e medalhas nas mais diversas áreas e esportes. O jovem, novamente entediado, volta para o sofá, liga a TV e muda de canal, até encontrar um programa sobre adestramento de cães.  Segue o teaser:

Comentário: Como dá para ver no teaser, o filme é meio trash, estilo que eu gosto bastante, por sinal. Apesar de eu ter achado algumas cenas um pouco longas demais, o filme me agradou muito. Pontos positivos para o fato de vários trechos de músicas serem tocadas em gaitas.

Conclusão

No geral eu fiquei bem impressionado com as peças. A qualidade do som e do vídeo estava muito boa em todas elas, e a sessão foi bem organizada, diferentemente da minha experiência no Cineport, que dava para ver o responsável abrindo um player de vídeo na área de trabalho dele e trocando o DVD a cada curta.

Gostei da experiência de fazer anotações durante os curtas, pois claramente fiquei mais atento aos seus detalhes e enredo. Quem sabe eu não venha repetir o experimento e publicá-las aqui.

Abraços!

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