Assim que cheguei aqui na Alemanha, precisei comprar algumas coisas “importantes”. Uma delas foi um tênis específico para andar na neve (outra foi um desodorante, mas isso não importa agora).
Fato que se você andar em lugares com muita neve (tipo quando você pisa e o seu pé afunda) usando um tênis normal, além do provável frio que você vai sentir nos pés, o seu tênis vai ficar com um cheirinho horrível não muito bom depois, pois neve molha.
Se lembra quando sua mãe dizia para secar bem os pés (depois do banho) antes de colocar o tênis? Tudo que ela estava tentando lhe dizer era: pé molhado + tênis = muito chulé. Agora imagine se algo estiver constantemente molhando o seu pé durante uma longa caminhada, misturado com o suor, naquele lugar abafado que é o seu tênis…
Segundo meu controle financeiro, essa beleza de tênis impermeável me custou € 39,00. Lembro que na loja, enquanto tirava aquela linda nota de € 50,00 da carteira, pensei: “Hm, 1 Euro está custando pouco mais de 3 Reais. Logo, este tênis custa o equivalente à R$ 120,00″. Fiz um julgamento qualquer sobre estar caro ou barato, e segui a minha vida. Não demorei muito para perceber como aquela conta havia sido mal feita.
Eu obtive o valor correspondente em Reais, mas não obtive o que realmente queria: quanto esse tênis custa para um alemão. “Isso você já sabe seu idiota. € 39,00″ – você deve estar pensando. Mas será que isso é caro ou barato (para os alemães)?
Para resolver esse problema, decidi criar um método mais justo e interessante de comparar os preços. Usando conhecimentos avançados de matemática (regra de três e porcentagem), resolvi que ao invés de comparar os preços nominais, seria melhor comparar quantos % do seu salário uma pessoa gastaria com aquilo. Nada melhor que exemplos para ajudar na explicação.
Esses dias decidi que irei comprar um MP3 Player e um fone de ouvido de qualidade. Quem realmente aprecia escutar música, sabe como um fone de ouvido bom é importante. Depois de ler muitas comparações e pesquisar preços, decidi que irei comprar um MP3 Player de 4Gb (€ 21,97) e um fone de ouvido Creative EP 630 (€ 17,97) no Amazon.de. Tudo bem, admito que existe muita coisa melhor por aí, mas isso foi o que mais se encaixou na minha relação custo-benefício-necessidade-dinheiro-que-eu-tenho. Somando, descobre-se que irei gastar € 39,94.
Já no Brasil, o mesmo fone de ouvido custa R$ 159,00. O MP3 Player não consegui achar semelhante (4GB e sem “visor” grande), mas para fins didáticos irei pegar esse de 2GB de R$ 99,00. Ele tem só a metade do espaço, mas tem rádio e gravador de voz. O total é de R$ 258,00.
Para continuar os cálculos, precisamos de um dado muito importante: a renda per capita média em cada país (ou região, se você quer ser mais preciso). Segundo essa pesquisa feita pelo IBGE, em 2005 a renda per capita do Brasil foi de R$ 11.658,00. Sendo que no Nordeste (minha terra) o dado é um bem pior: R$ 5.498,00. Enquanto isso, na Alemanha, a renda per capita no ano passado foi de € 30.375,79, segundo o Wikipedia. Lembrando que esses valores representam a “média” que a população ganha por ano. Preciso nem falar que esses dados não correspondem com a realidade pois não levam em conta a desigualdade social. Mas desigualdade social é assunto para outro post.
Então… Dividindo o preço total dos produtos (R$ 258,00) pela renda per capita de um típico nordestino (R$ 5.498,00) e multiplicando por 100, vemos que o coitado meu conterrâneo iria gastar 4,69% do que ele ganha em um ano para comprar um MP3 Player de 2GB mais um fone de ouvido bom. Ou em outras palavras, 56% (mais da metade) do salário médio mensal dele (R$ 458,16).
Já no caso do alemão, dividimos também o preço total (€ 39,94) pela renda per capita (€ 30.375,79) e multiplicamos por 100. O resultado é bem diferente. Aqui os itens custariam apenas 0,13% do seu salário anual, ou 1,5% do seu salário mensal (€ 2.531,31).
Sentiram a diferença? 1,5% (Alemanha) versus 56% (Nordeste) do salário mensal.
Vou pensar duas vezes antes de dizer que o corte de cabelo é caro aqui (€ 12,00) em relação ao que eu pagava no Brasil (R$ 12,00). Usando as mesmas pessoas acima, 12 reais representa 2,61% no salário mensal de um nordestino, sendo que 12 euros representa apenas 0,47% no salário mensal de um alemão.
E para fechar com chave de ouro, uma foto minha (bônus para família e amigos):
que mulesta de fone é esse que custa quase a mesma coisa do mp3 player?!
eu acho que tu tá se amarrando demais no aparelho, e aloprando no fone. pq tu não compra daquele sandisk que eu tava pensando em comprar pra euriko?
beijos
Eu acho que o fone é mais importante que o aparelho :P.
Sua camera possui autodisparador.
Fernando, achei muito legal essa sua comparação!
Quando morei em Lisboa, sempre falava disso pros meus amigos e familiares.
O que eu sempre comparava eram os preços dos carros – um Seat Ibiza (equivalente a um corsa no Brasil), custa – em Portugal que é dos países com maior tributação na Europa – 13.000 euros. Aqui no Brasil um Corsa não sai menos que 35.000.
Ok, se convertermos, sai por quase 40.000, mas o que é mais fácil: juntar 13.000 ‘dinheiros’ ou 35.000 ‘dinheiros’?
Que no fundo é o que vc falou, mas de maneira matemáticamente inteligível! rs
Boa sorte ai!
Oi
Bom, eu concordo em parte com sua comparação. Utilizar o valor percentual do salário é uma forma de avaliar o impacto de certo item no orçamento de um indivíduo de um país, mas acho que não se aplica a algumas das comparações que você fez. Produtos eletrônicos, automóveis e commodities em geral são um exemplo típico de produtos de mercado global: com exceção de ações protecionistas, influência local ou impostos (caso do nosso Brasilien…), etc, esses itens tem um valor global , que serve até de parâmetro externo e inflacionário – ou seja, um no Brasil (http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-89913099-mp3-player-4gb-pen-drive-radio-fm-grava-voz-aulas-pendrive-_JM) deveria custar o mesmo que nos EUA (http://www.amazon.com/Coby-MP305-4G-Player-Flash-Memory/dp/B00134VVKU/ref=pd_bbs_sr_1?ie=UTF8&s=electronics&qid=1238535566&sr=8-1) ou Alemanha, assim como commodities como ferro ou soja; novamente com exceções por influência da acessibilidade, disponibilidade local, protecionismo e impostos. O outro exemplo, porém, parece ideal: o corte de cabelo – é um serviço localizado, resultado da valorização da mão de obra local e mais ainda do valor real do serviço para os alemães.
Mas de qualquer jeito, o parâmetro mais importante (e mais óbvio) é quanto você ganha: se ganha em euros, nada mais coerente do que pensar exclusivamete em euros; se ganha em reais, aplique o mesmo.
Auf Wiedersehen ; )
Alias, mto legal o blog!!
muito massa a comparação que você fez, mas eu ri quando li “conhecimentos avançados de matemática”, eu pensei, wtf avançados? o que ele sabe que eu não sei AEUhuaHEuaE =D
Comparar uma das (a?) região mais pobre do Brasil com a média geral da Alemanha é sacanagem, né
Ou faz a comparação com a região mais pobre da Alemanha ou pega o geral dos dois. Mas, mesmo assim, a diferença é absurda…
Mas vocês não tem praias (usáveis)! Rá!